Por Sergio da Motta e Albuquerque
Eu não esperava nada deste Rock in Rio, nem de nenhum outro, desde que virou uma marca mundial. Mas Steve Wonder, numa noite clara e limpida, trouxe de volta a mágica de 1985, quando ainda não se sabia se a coisa ia dar certo, ou não. Primeiro, honrou o nome da festa: apresentou um show com dois guitarristas da melhor qualidade. Os dois solavam juntos, em dois tons diferentes: um alto e outro mais baixo. Impressionante. Steve nunca foi de muitas guitarras, mas, bem, a noite desta vez foi diferente... Depois de alguns sucessos conhecidos, a surpresa: o homem chegou de bossa-nova, e fez o povo inteiro cantar “Garota de Ipanema”, de Tom e Vinicius.... Acredite, eu vi. Eu nunca vou esquecer esta noite.
Há algo de especial, com este músico. Ter feito a minha gente cantar como há muito eu não ouvia, no meio da madrugada, de uma rara noite temperada no Rio de Janeiro, foi algo que me emocionou muito. A gentileza e versatilidade do artista, que, educadamente, soube como se colocar entre nós, em nossos próprios termos foi uma mágica e inesperada bênção. Ele não apenas trouxe de volta os primeiros momentos da primeira festa, mas os de todos os concertos de rock da história.
Já estive em muitos concertos, desde o show do Santana, em 1971, no Festival da Canção, passando pelo primeiro Rock in Rio. Mas esta noite foi diferente. É quase outubro, há uma linda lua minguante no céu. O cantor americano mudou o rumo de uma festa padronizada para um bom e velho concerto de rock. Sem esquecer-se de cantar o Brasil. Ele terminou sua festa, ou melhor, a nossa festa, com acordes latinos e muito ritmo. Com as cores do Brasil. Que é de todas as cores. Tudo está em paz. Tudo está bem. E eu ? Bem, como uma vez disse o Herbert Vianna, “sou quase feliz”...