Sexta-Feira de Carnaval na Tijuca
Sergio da Motta e Albuquerque
Rio, quatro de março de 2011.
Era sexta-feira, a primeira antes do carnaval, no Rio de Janeiro. Eu estava com raiva. Esperei quatro horas por ela. Ouvi música, vegetei, escrevi. Pensei... Lá pelas onze (da noite...) ela chegou: “Eu briguei com ela , Roberto”. Antes que eu dissesse qualquer coisa, percebi o enorme stress daquela mulher. E continuou: “ninguém tem filhos e larga desse jeito”, ela protestou. Minutos depois, eu a vejo a procurar as chaves de casa. “Não estão aqui”, murmurou ela. Entrou no carro. Não encontro as mesmas. Pediu que eu entrasse. “Vou ter que ir lá pegar”, ela falou. “Vamos lá rapidinho”, ela comandou.
Não questionei nada. Também não iniciei conversa. Ela dirigia rápido. Ligou para o irmão: “Procura aí por perto da sala”. Comentou pra mim, de lado: “Ele é péssimo para procurar coisas.” Depois de passarmos a Praça Sans Peña, ela olhou de novo o piso do veículo: lá estavam as chaves. Um bloco de sujos cruzou nosso caminho, alheio as nossas peripécias e confusões. O carnaval de 2011 estava começando ali, na nossa frente. Como nos anos 50: gente boa e honesta, a divertir uns aos outros sem abuso ou violência. Percorremos todo aquele percurso por nada. Ou, como querem os espiritualistas, estávamos ali por alguma razão...
Voltamos para casa. Tudo mudou. Ainda foi possível alguma paz, depois de um dia tão exaustivo. Esqueci a bronca, o aborrecimento. Ela relaxou. O dia terminou bem. Boa noite, Rio... Cidade de todos os amores.