"O Atirador da Noruega" - Documentário da Natgeo

Foi com assombro que assisti a reconstituição dos atos de terrorismo de Anders Bhering Breivik, o homem que matou 77 pessoas na Noruega em julho do ano passado. Não pude acreditar no despreparo das autoridades policiais, descoordenas nos três níveis: minicipal, estadual e federal. A desorganização foi tanta que Breivik teve 1 hora para ficar  na ilha de Utoya e fazer seu serviço repulsivo e aterrador. O documentário foi apresentado pelo canal National Geographic no dia 22 de julho deste ano. Um ano depois do ataque.

Os brasileiros costumam fazer uma imagem idealizada da Noruega. Alguns mitos precisam ser desconstruídos: o país é minúsculo e o número de armas em poder da população é enorme. Como em todos os países pequenos rodeados de potências militares e uma história plena de invasões, ao povo é facilitado o acesso às armas, sob a desculpa de "haver muita caça" no país. Como a Suíça.  Há muito armamento - e facilidade para consegui-lo no país. Outro mito: Noruega é um país pacífico. A história desmente o fato. Os noruegueses, que na época eram pouco mais de 3 milhões de almas, diante da invasão alemã em  1940 , lutaram furiosamente por dois meses contra as imensas forças de Hitler. Conseguiram que seu rei saísse do país a tempo de formar governo no exterior. E obrigaram a Alemanha a manter 400 mil soldados no pequeno país.

Enquanto isso, a resistência, entre 1940 e 1944, tentava explodir um depósito de água pesada -material radioativo descoberto mas não usado pelos noruegueses. A façanha, realizada em 1943 foi cinematográfica: o reservatório ficava à beira de um alto penhasco, na represa Vemork. Que foi escalado por membros da resistência e parcialmente destruído numa ação espetacular que deu origem a um filme em Hollywood. Foi considerada a mais importante missão de sabotagem da 2ª guerra mundial.

O documentário pouco explorou o passado aguerrido dos noruegueses. Ou a situação do terrorismo e da imigração no país, nem o papel do partido trabalhista, a força de esquerda dominante que era vista como nefasta pelo atirador alucinado. Ancorado em depoimentos de sobreviventes, o documentário deixou muita coisa de fora. Como a participação militar do país em Kosovo, Darfur e Afeganistão. Mas o programa deixou bem clara o provincialismo e o despreparo das forças de defesa internas do país. Além da falta de um comando centralizado. Um helicóptero poderia facilmente chegar rapidamente à ilha. Mas as forças federais dependem das locais para agir. A estrutura ingênua e antiquada de defesa deixou os jovens em Utoya indefesos diante do matador.