Sergio da Motta e Albuquerque
Eu estava a assistir
o programa “Livros
que amei” (outra boa ideia do canal “Curta!”, 30/1),
apresentado por um jovem ensaísta convidado para apresentar ao
público as suas leituras. O rapaz não economizou nos autores:
Nietzsche, Tolstoi e Roland Barthes. Quando se é jovem, agimos como
super-potências. Nossa ousadia não tem limites.
Pois bem, o
convidado exibiu erudição , mas disse que o nobre escritor russo
“contestava a Igreja Católica”. Eu nunca ouvi falar na briga do
príncipe Leon Tolstoi com a Igreja de Roma porque ele nasceu
ortodoxo, como 99% dos russos. Talvez o ensaísta tenha
simplificado seu discurso para uma audiência maior. Não sei. Tudo
poderia ser resolvido se houvesse edição no programa. Edição com
competência em História, Literatura e Geografia. E bom senso.
Alguém que não deixasse o jovem escritor fazer uma declaração
equivocada em público Estou pedindo muito?
A falta de edição
é uma das pragas da mídia de massas contemporânea. Eu também
cometo meus erros. No dia 11, publiquei uma foto de um suposto
porta-aviões russo que na realidade era americano. A matéria acabou
na capa de um jornal da pequena imprensa. Com uma palavra faltando,
logo no primeiro parágrafo. Não tive opção a não ser “abater”
a mesma. Foi retirada por mim da edição com 56 comentários. O
publicador invisível não gostou do “buraco” na primeira página
dele. Ele é um jornalista famoso e experiente. Não entendo seu
descuido com aquilo que publica, de um ponto de vista
técnico-formal.
Se houvesse edição
séria, que tivesse lido pelo menos os dois primeiros parágrafos,
nada disso teria acontecido e a integridade do jornal não teria sido
violada. Mesmo que eu tenha eventualmente corrigido a matéria (com a
devida nota de rodapé a explicar a edição anterior, com erro), o
texto ficou de fora daquele dia do periódico. Mas não é admissível
uma publicação que se pretende séria publicar títulos que não
foram sequer lidos. Na primeira página. A “racional (sic)” é a seguinte: “O título
é bom, boas fotos (uma delas errada), um bom gráfico...Publique-se sem
maiores considerações”. Ou edição.
Durante seis anos
publiquei em um veículo da mídia muito conhecido. Nos cinco
primeiros anos a edição foi firme. O toque do editor era visível.
Correções eram feitas. Os autores podiam atualizar seus textos.
Não é possível fazer jornalismo na web sem atualizações.
Observem as maiores revistas mundiais de tecnologia na web. Na Wired,
a Ars Technica a CNET e outras, seus artigos estão cheios de
registros de alterações. Porque o texto da web demanda depuração
(debug), acréscimos e muitas vezes da colaboração dos leitores.
Quem coordena tudo
isso é o editor. Não podemos viver sem eles.