sexta-feira, 7 de julho de 2017



                                             Eu tenho saudades

                                                                                         Sergio da Motta e Albuquerque


Eu tenho saudades dos bares antigos, das mesas de mármore e do ar respeitoso da gente que os frequentava. Eu tenho saudades dos telefones pretos, que não informavam nossas vidas às grandes empresas e destruíam nossas vidas privadas. Eu tenho saudades da vida privada e da pública também. Pois hoje as tecnologias de comunicação distorcem vidas humanas e criam sociedades de seres desequilibrados. Que não sabem estabelecer bem a diferença entre o que deveria ser íntimo e privado, e nunca público ou publicado.

Eu tenho saudades da vida mais simples, dos livros de papel e dos jornais das bancas. E do café com leite nas manhãs. Eu tenho saudades do jornalismo de verdade, e de mentira, como as crônicas de Nelson Rodrigues. Eu tenho saudades de um Brasil mais pobre e honrado. Que tinha uma fisionomia distinta das outras do planeta, e já não tem mais. Hoje somos como os outros países e os outros povos; queremos apenas consumir mais.

Eu tenho saudades da velha política, quando minha mãe levava-me à Câmara dos Deputados, que ficava no Rio de Janeiro, à Rua Primeiro de Março. Ela me dizia: “- Sergio, o Deputado Abelardo Jurema é líder da minoria, e só tem um terno”. Quantos ternos têm nossos congressistas hoje? Eduardo Cunha, quantos tem e não pode usar onde está? Minha mãe apontou a virtude rara de um político no velho Rio de Janeiro. E por falar na minha cidade, eu tenho saudades do Rio, a Capital da República. Pois Brasília aviltou nossa cidade maravilhosa e fez dela um covil de bandidos, onde crianças são baleadas nas escolas todas as semanas.

Quem duvida que a decadência do Rio foi causada pela transferência da capital para o centro do Brasil não conheceu e viveu no Rio, Capital da República. Não haveriam as quadrilhas super-armadas com o presidente da república aqui na cidade que já foi maravilhosa. Eu tenho saudades de quando não existia Brasília e sua corja de ladrões bilionários, e do Brasil que existia antes dela. E do povo que saía as ruas para enfrentar governos e fazer guerrilha contra a ditadura. E da vergonha na cara, pois não vejo as ruas cheias de gente a protestar contra o governo mais infeliz de nossa história, e sua insana pretensão de continuar governar.

Eu tenho saudades do amor. Que se encontrava nas tardes de domingo, quando íamos aos cinemas. Eu tenho saudades deles , também. Dos cinemas nas ruas, praças e avenidas Eu tenho saudades das quitandas de vendedores portugueses e brasileiros, e odeio “shopping centers” e sua estética do mau-gosto de cidade americana. Eu tenho saudades de quando não existia a Barra da Tijuca, e nós íamos passear lá e ver o caimão nadar na lagoa escura naquela região ainda selvagem.

Eu tenho saudades de jogar linha de passe na cimeira mais alta alto do Corcovado, a 800 metros de altura, com dois amigos e uma bola pequena. Tínhamos o Cristo Redentor só para nós, em 1979. Eu, Ricardo e Luís Antônio jogávamos ali, com a permissão de um policial que deveria estar de guarda, mas já era madrugada e ele dormia, junto com a cidade inteira. E nós ali, a jogar, à beira do precipício. Qualquer descontrole, e a bola caía no abismo. Assim acabavam todos os jogos. Eu tenho muitas lembranças desses brinquedos com meus amigos. Éramos vagabundos e irresponsáveis, por revolta contra um regime que não deixava um jovem explorar sua capacidade criativa. Havia censura. Havia ameaça. Havia prisão, tortura e morte. Havia covardia. E rebeldia. Que um dia me cobraria preço muito alto.

Hoje olho para trás, ingrato. Não conto as minhas bênçãos. A idade chegou e com ela as lembranças que confortam e as certezas que desesperam por não termos mais tempo. Só legados a terceiros. Não poderemos fazer tudo o que planejamos. Não temos mais tempo. E ainda temos tanto a dar. Mesmo assim, a sociedade nos afasta. Não nos quer. Porque temos mais de 60 anos de idade. Pouco importa nossa real condição física, intelectual ou mental.

Eu tenho saudade dos amores que perdi por mau gênio. Por auto-suficiência da juventude. E agora, aos 62 anos, creio ter ainda algum tempo para lembrar o que ficou para trás e nunca será resolvido. A vida é assim: algumas coisas jamais serão resolvidas. Jamais chegarão a termo. Deixaremos este mundo sem que nossas vontades e caprichos se cumpram. Porque Deus nos quer mais humildes, e não reizinhos imprestáveis.

Eu tenho saudades de Deus.

Rio de Janeiro, Sete de Julho de 2017



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Documentário "A Revolução digital" - The Digital Revolution"

Assista o documentário apresentado pela Drª Aleks Krototsky, que mostra a evolução da web. Ela traz os maiores nomes da rede, como Tim Berners-Lee, e os presidentes das maiores companhias da internet, para entendermos como ela vem mudando nossas vidas. E como vem sendo transformada de uma grande empreitada coletiva internacional, num "jardim murado", que é propriedade das grandes companhias da web. Teria ela fugido de sua finalidade original? Onde nos leva a experiência com a internet?
Assista ele todo aqui:
http://topdocumentaryfilms.com/virtual-revolution/

Este abaixo é o episódio 1. os outros estão na mesma página (são 4 no total).

http://www.youtube.com/watch?v=NPD4Ep_J81k&list=PL114B076F2F7AA761&feature=player_embedded

"The Virtual Revolution" - Full Documentary here or on Youtube ( in 4 episodes). (see disclaimer below)

"Twenty years on from the invention of the World Wide Web, Dr Aleks Krotoski looks at how it is reshaping almost every aspect of our lives.Joined by some of the web’s biggest names – including the founders of Facebook, Twitter, Amazon, Apple and Microsoft, and the web’s inventor – she explores how far the web has lived up to its early promise". Watch the documentary here:

http://topdocumentaryfilms.com/virtual-revolution/ (full documentary)

This bellow is episode 1. The others (4) are in the same page.
http://www.youtube.com/watch?v=NPD4Ep_J81k&list=PL114B076F2F7AA761&feature=player_embedded

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