O Credo estúpido de Anders Behring
Sergio da Motta e Albuquerque, 26/07
atualizado em 29/07
atualizado em 29/07
Andei lendo o manual do Anders Behring (o matador norueguês). Infelizmente, o que ele diz sobre nós eu já ouvi de muita gente no Brasil: somos o que somos por causa da mistura racial. Tudo de ruim que existe entre nós é produto de nossa identidade mestiça. O argumento não passa de um lugar-comum de gente mal instruída. Ele também acredita que a Europa continuaria como centro do poder mundial, se não fosse por Hitler e sua loucura de conquistar o mundo, e liquidar os judeus. Será que ele nunca leu sobre a miséria que a Europa estava nos anos 30? E que mesmo se a Alemanha, recuperada entre 1933 e 1936, evitasse a guerra, a economia mundial jamais aceitaria a política econômica protecionista e isolacionista deste país. A Europa não iria admitir que a Alemanha sustentasse o bem-estar do povo alemão através da miséria dos outros países do continente. Era guerra ou guerra, tragicamente.
Ele acredita que os judeus europeus deveriam ter sido deportados para a Palestina ( e não exterminados). A Alemanha poderia libertar Jerusalém. Tinha poder militar para isso. Depois seria ajudada por Inglaterra e França na expulsão dos judeus da Europa. Estes, passado o susto, agradeceriam, por receber de volta a Terra Santa (sic). Este rapaz diz que detesta Hitler mas deve ter sangue dele: é burro como o carniceiro austríaco: será que ele ignora que a região estava sob mandato da Inglaterra, e a Alemanha jamais se atreveria a atacar a Inglaterra no Oriente? Isto traria a guerra, e no Leste (área de influência russa). A Alemanha teria que começar uma guerra em duas frentes. E ela evitou isso a todo custo, depois de 1939. Senão por que assinaria um pacto de não-agressão com a Rússia?
Outra coisa: o grupo dele -"os cavaleiros Templários", não é racista, segundo o manual. Apenas prega a liberação dos povos indígenas (locais) da Europa, sem pretender fazer mal a outros grupos indígenas no mundo. Ele elogia Touro Sentado, o chefe Sioux que teria massacrado as tropas do General George Armstrong Custer, nos EUA, no final do século XIX. Chama Custer de Hitler (que, para ele, é um traidor da causa conservadora. Depois do fracasso deste, os conservadores foram empurrados para escanteio, e o multiculturalismo tornou-se hegemônico na Europa). Mas ele ignora que o chefe Touro Sentado - um homem nobre - não participou da batalha contra Custer. Ele era um homem santo, para os índios. Tratava dos idosos. Ensinava as crianças. Ficou na retaguarda, protegendo as mulheres e as crianças, quando Custer atacou. A tribo sabia que ele era precioso demais para morrer naquele momento. Este Chefe está no céu com Deus...
O movimento dele (que pode muito bem ter um só membro: ele mesmo...) diz que não é racista. Aceita mestiços leais, e mesmo gente de outras raças, desde que se convertam ao cristianismo, mudem de nome, e derramem sangue pela causa deles. "Serão tratados como irmãos", diz ele, e "terão seus lugares garantidos na Europa". Claro.... A população da Noruega inteira cabe na cidade do Rio de Janeiro, e mesmo juntando todos os "arianos" do mundo, o tamanho do exército não iria dar nem pra saída, numa guerra de libertação da Europa. Hitler também aceitou muitos mestiços no exército, porque o número dos “raças puras” não dava nem para o início de uma guerra...
O "livro", lá pelo final (pg.1167) contém uma mensagem aos mestiços: a libertação da Europa não vai depender da cor da pele nem da etnia, mas de lealdade aos valores tradicionais. Mestiços são bem vindos entre os novos templários, disse o afilhado de imigrantes chilenos. Mas o tempo todo ele afirma que a homogeneidade racial é essencial para a organização de uma sociedade funcional (por isso o Brasil é um pais do "segundo mundo". Vejam só: ele nos promoveu do terceiro para o segundo mundo.... não é uma gracinha?). Anders Behring conviveu com multiculturalismo, em sua infância e adolescência: seus padrinhos vieram do Chile. Eram imigrantes nas terras norueguesas. Não sei como ele conviveu com isso, mas ele pensa que os maiores incentivadores do multiculturalismo são o governo, o Partido Trabalhista, e a parte do próprio povo norueguês que apoia o "politicamente correto". Um bando de traidores, segundo ele. É contra eles que ele dirige seu ódio. A prova maior foi o massacre da Ilha.
O argumento dele é cheio de contradições, ignorância em história, e pura estupidez - como atacar a Inglaterra através de Jerusalém, então nas mãos dos ingleses, para devolver Jerusalém aos hebreus. Outra proposição absurda de Breivik é acabar com os cursos de sociologia nas universidades. O mais triste é que o falso conhecimento dele convence muita gente. Por isso, educação de verdade é ESSENCIAL. Principalmente em ciências humanas (e, é claro, a língua do país...). Sem educação, cultura e valores humanistas, somos todos Anders Behring Breivik.
Outra coisa que me irrita demais nele: já cansou de ser protestante. São muito liberais e toleram tudo. São decadentes...E ele quer se converter ao Catolicismo. E ainda por cima, o Anders nasceu no dia 13 de fevereiro. Eu nasci no dia 12. Para os que acreditam em astrologia, e conhecem meu temperamento...