Primeiro
Beijo
Rio, 30 de abril de
2011
Ricardo de Almeida
Eu morava numa vila perpendicular a Rua Haddock Lobo, na
Tijuca, naquela época. A casa tinha duas entradas: a da frente, pela sala, e a
lateral, da garagem. Naquela tarde, resolvi entrar pelo lado. Coisa que nunca
fazia. E ela estava lá. Não sei que forças a levaram lá, mas lá estava ela:
bonita, suave e sensual. Eu tinha dezesseis anos, e ela dezoito.
Já havíamos sido apresentados pela minha irmã. Era uma filha
de portugueses bem-sucedidos, e que moravam na rua de meu avô paterno. Sabíamos
da atração entre nós, mas nunca tínhamos materializado nada. Eu a olhei, sem
espanto, e caminhei até ela. Sempre a mirá-la nos olhos. Olhos negros, cabelos
curtos. Eu me lembro dela, mesmo depois de 40 anos. Caminhei até ela sem assombro
e a beijei. Na boca. Foi lindo, afetuoso e inesquecível. Ninguém diria que 40
anos depois nada mais saberíamos um do outro.
O tempo parou para aqueles dois
jovens, ali, naquela passagem lateral de uma casa na zona norte do Rio de
Janeiro. É previsível que eles , no auge de suas juventudes, julgassem (como
todos os jovens...) possuir a terra.
Foi uma tarde de esplendor, na minha vida. Uma graça que
jamais esquecerei.