Prima Lucia:
Eu não tive a
coragem, durante as exéquias de minha mãe, de entrar na capela
mortuária. A dor era imensa. O que aconteceria se eu entrasse? Tive
medo a noite inteira e não dormi. Encontrei o Rafael, o Mario
Valente e o Eugênio no lado de fora. E alguns outros homens de bem.
Foram a Guarda de Honra informal de minha mãe. A Nobre Escolta da
Dona Neide.
Disse a eles que ia
dar uma volta. E fui. Só para retornar aflito e entrar, como criança
com medo, ao local do qual fugira em susto e dor. Entrei.
Tu
estavas lá e o abraço veio, espontâneo. Ele me confortou. E muito.
Foi quase sobrenatural. Teve o poder de diminuir a minha dor. Era
como se pudesses transmitir a mim a energia dela, já acabada (?).
Prima, teu abraço me salvou naquele dia triste. Foi como abraçar
minha mãe pela última vez. Hoje, eu (talvez pelo meu transtorno
imenso), acredito que o que aconteceu foi um tipo de milagre. Uma
graça recebida. Eu pude chorar um pouco sem ser ou me sentir
oprimido. Obrigado, minha prima. Somos considerados “secos” (nós,
desta família). Minhas irmãs são desérticas, em suas emoções
comigo. Chorar, em frente a elas, nem pensar. Mas nem todos nós
somos assim. Eu não me importo com prantos. Carlos Santana, o
guitarrista, em 1991, disse que “não há problema algum em chorar.
No céu é assim”, disse o músico. Eu concordo. Com uma ressalva. No Céu não se chora por dor, mas por emoção ainda mais digna: o
amor a todos os homens e mulheres em busca da redenção.
Obrigado,
prima querida.
Sergio da Motta e Albuquerque