Concordo, Renato. Principalmente quanto ao problemas da mão de obra qualificada, e ao sacrifício necessário para a melhoria daqueles países que, infelizmente, não aconteceu na devida forma.
sábado, 26 de abril de 2025
MILhafre: um olhar lusófono sobre o mundo: Cinquenta anos depois, é tempo, de facto, de pedir...
MILhafre: um olhar lusófono sobre o mundo: Cinquenta anos depois, é tempo, de facto, de pedir...: Cinquenta anos depois da nossa descolonização dita “exemplar”, é de facto, tempo, mais do que tempo, de pedir enfim desculpas – como tanto...
terça-feira, 21 de agosto de 2018
Lições de mãe
Sergio da Motta e Albuquerque
Algumas delas parecem atravessar a eternidade. Há
alguns anos encontrei -dentro de uma gaveta de armário da sala - o
diário escrito de minha mãe. Ela começou a escrevê-lo nos anos de
1940, enquanto a selvajaria da guerra envolvia o planeta. Não tive
pudores ao ler o que minha mãe escreveu.
Não havia nada demais lá. Nenhum segredo de
família ou contradição oculta. Ela escreveu sobre conhecer meu
pai, e sobre a esperança que teve em construir uma vida em
colaboração diária. E sobre as missas de domingo que os dois
frequentaram, antes do almoço na casa de meu avô. E tudo isso
aconteceu bem aqui, pelas ruas e praças que frequento ainda hoje.
Descobri que minha mãe , e meu pai também, foram verdadeiros
católicos. As missas para eles não eram obrigação. Eles realmente
saiam felizes daquelas celebrações católicas. Jamais pude replicar
este sentimento.
Em um certo ponto de sua confissões, ele se
perguntou sobre o tempo que ela e meu pai teriam juntos. Sempre
acreditei que este tipo de questionamento deve ser evitado por
todos, a todo custo.. Mas minha mãe não resistiu à tentação de
tentar pensar o futuro. Os dois não teriam muito tempo juntos.
Um dia revelei a ela o encontro e a leitura de
suas confissões comprometidas ao papel. Perguntei a razão de sua
insegurança com o futuro. Não me parecia compatível com seu modo
de agir e pensar. Se ela sempre viveu o presente, por que perguntar
a Deus quanto tempo de vida teria com meu pai? Na realidade, eu
cobrei dela coerência, em minha inexperiência. Foi quando a lição
foi passada.
Nunca vi tamanho desassombro, na reação de minha
mãe. Imaginei tudo, menos aquela resposta quase indiferente. Ela não
quis saber sequer onde estava tal diário (...) Nem ocupou-se com o
que eu poderia ou não ter lido. Minha mãe era desapegada das
emoções passadas, e tinha a segurança de quem praticou a vida
toda a doutrina do dever cumprido. Tudo o que ela viveu a mantinha
firme em seu rumo. Seu passado estava lá, digno e sóbrio. Em breve
ela estaria em total harmonia com ele. Ela sabia disso, e a enquanto
esperava, rezava. Com uma força que eu sempre considerei beirar a
irracionalidade. Principalmente quando o fim impôs sua verdade dura.
As lições das mães são eternas. Com elas
dialogamos por todas as nossa vidas. Minha mãe soube libertar-se das
emoções nefastas do passado. Foi embora deste mundo livre dos
envolvimentos, compromissos e paixões que destroem tudo aquilo que
tentamos construir nesta vida. Foi a última lição que ela deixou
para nós todos.
terça-feira, 5 de junho de 2018
Como afastar um presidente sem destruir a economia de uma país?
Por
mais justo e desejado pelos Democratas americanos, o "impeachment"
de Trump ainda é uma possibilidade muito remota. Ele nada fez que
pudesse comprometê-lo aos olhos da lei de seu país, e convencer 2/3
do Congresso do contrário, no momento, não é algo
factível, explicou
a BBC (19/5).
A
despeito disso, a pressão continua. Piorou depois que presidente
publicou um "tweet" mencionando o perdão
presidencial a ele mesmo. De qualquer forma, a não ser que as
eleições de meio de mandato mudem tudo no equilíbrio de forças no
senado e congresso ianques, durante a maior parte do seu atual
período, vai ser difícil afastá-lo.
Se
isso acontecer, virá ao apagar das luzes de seu governo. Do mesmo
modo que aconteceu com Nixon. Os americanos são pragmáticos:
afastar um presidente eleito é ruim tanto para a democracia quanto
para a economia. Desvaloriza os contratos públicos e o poder
soberano de uma nação, expondo-a a crises econômicas e prejuízos
que incidem principalmente sobre a população mais pobre, que não
tem dinheiro ou reservas e capital aplicado para
superar instabilidades
econômicas
inesperadas .
Os
políticos americanos tem alguma experiência em afastamento de
presidentes por meios legais e por assassinatos. Os brasileiros não.
O afastamento de Dilma Rousseff tirou nossa democracia dos eixos,
piorou muito o estado de nossa economia e mergulhou o país no caos.
Décadas de democracia desceram pelo esgoto publicado em base diária
pela imprensa nacional, irresponsável, submissa e mal preparada.
Recolocar
o país no caminho do crescimento vai custar muito mais tempo do que
o necessário, graças trauma do "impeachment" de uma
presidente que nunca foi culpada de nada para ser expelida do poder,
em primeiro lugar.
domingo, 20 de maio de 2018
Lula e o problema ideológico da esquerda brasileira
Sergio da Motta e Albuquerque
Coisa muito difícil de aceitar neste momento, num país dividido como o nosso, é que qualquer solução que houver para por este país nos eixos de uma vez por todas deverá ser fruto da colaboração entre esquerda e direita. Lula foi grande no início dos anos 2000 porque entendeu isso. Ele foi sindicalista, mas nunca socialista. Quando líder sindical, seu papel maior foi lutar por mais oportunidades de emprego, dentro de empresas capitalistas. Nas montadoras de autos em São Paulo. Não sei até que ponto o PT prejudicou Lula. Melhor dizendo, a ideologia hegemônica no partido dos trabalhadores até o final do século passado pode ter agido contra a projeto do ex-presidente.
O ex-metalúrgico apareceu como um enviado místico, para marxistas-leninistas de plantão no final dos anos de 1970. Eles (os marxistas acadêmicos) acreditavam que apenas alguém de origem proletária poderia conduzir este pais à trilha da emancipação de sua pobreza histórica. Durante anos sustentei luta contra este credo e sua argumentação estalinista: nem todo trabalhador é um revolucionário. E revolução nunca foi meta estratégica a seguir, mas o desenvolvimento do Brasil e a libertação de seu povo da miséria. Quem viu revolução em nosso caminho errou feio.
Nosso povo é conservador e teme mudanças. Qualquer tipo de ação vanguardista assusta a nossa população. Aqui a esquerda enfrenta um problema cultural que não pode ser compreendido pela ideologia ou pelo pensamento marxista produzido em outras parte do planeta, para outras realidades. O grande erro dos marxistas tupiniquins é não entender que o trabalho de Marx (e toda a produção intelectual do pensador alemão) , não foi pensado para a situação como a dos países atrasados, sem um parque industrial totalmente desenvolvido. A teoria da libertação do terceiro mundo elaborada pela esquerda falhou em escala mundial por ignorar este fato básico: suas premissas de ação revolucionária foram elaboradas para realidades dos trabalhadores da Inglaterra, Alemanha ou Estados Unidos. Nunca para a América Latina ou África. O marxismo no terceiro mundo nunca saiu de sua infância militante.
Assim como a Alemanha depois de 1848, ainda temos poucos historiadores neste país que não estejam a serviço da ideologia. Qualquer que seja ela. Historiadores são cidadãos e não são neutros, mas não podem viver em eterno a perseguir a transformação social sem entender muito bem a realidade em que vivem. O mesmo vale para todos os acadêmicos e estudiosos progressistas. Conciliar o vanguardismo da esquerda com as necessidades pragmáticas e os anseios concretos do povo brasileiro é a tática a seguir na estratégia de luta por um Brasil melhor e mais digno.
domingo, 25 de março de 2018
“ Tchau, Sergio” ou Como evitar que seu pai ou mãe morra por um tratamento de Alzheimer
26/3/2017
Sétimo dia da morte de minha
mãe
Sergio da Motta e Albuquerque
O
últimos dias de minha mãe não saem de minha cabeça. Ela foi
diagnosticada, em 2014, com Alzheimer. Estava ainda muito bem. Foi
rude perdê-la em menos de três anos. Eu imaginava que ela ainda
poderia viver até mais uns 5 anos. Pelo menos.
Quando
meu pai morreu, em 1967, tudo foi bem diferente. Súbito, brutal, mas
remoto. Nunca o vi decair. Minha pobre mãezinha
desabou após um tombo que levou. Bateu a cabeça, foi internada e
depois operada para extrair sangue do cérebro. Isso foi em dezembro.
Depois veio a sucessão de internações. Estamos em março de 2017,
e agora ela está morta. Ontem foi a Missa de Sétimo Dia. Na Igreja
dos Capuchinhos.
Tudo
começou com um telefonema que eu recebi de minha irmã, desesperada,
no meio da tarde de uma segunda-feira em novembro de 2016: “-
Sergio, a mamãe caiu”. Eu estava no edifício Avenida Central,
numa loja de computadores. Voltei tão rápido quanto pude. Depois
disso, ela perdeu a visão num olho, e sucumbiu célere ao peso dos
males múltiplos que a acometeram: trombose, insuficiência cardíaca,
uremia, desidratação e pressão descontrolada. Eu não estava lá,
quando ela partiu. Acho que estava com a acompanhante, quando passou
mal. Os médicos vieram, mas nada puderam fazer. Foi o que me contou
minha outra irmã. E foi assim que eu fiquei órfão aos 62 anos de
idade.
Não
consigo aceitar o vazio. A existência de minha mãe tinha um enorme
peso simbólico, para mim. A imagem da enfermeiras do hospital a
mudar, descuidadas, a sua posição na cama, não me sai do
pensamento.”- Ai! Minha cabeça!”, minha mãe gemeu. Elas bateram
a cabeça dela. A sua voz, impossível de ouvir, na maioria das
vezes, daquela vez foi clara. Vai ficar para sempre em minha
lembrança. Eu não sei por quê temos que viver certas situações.
Eu a internei, desta última vez. Estava inchada, e com uma cor
mórbida. Sua queda fora bruta e súbita.
Minha
irmã ligou depois da meia-noite. Era aquele telefonema de um número
que eu tentei não atender por dois ou mais anos. “Aconteceu alguma
coisa?”, perguntei, hesitante., eu já sabia, mas foi o que disse.
Minha irmã respondeu;”-Ah! Aconteceu sim”. E me contou a
história que eu temi a minha vida inteira. Nossa mãe morreu de
choque séptico e parada cardíaca. Aos 89 anos. Parece muito, mas se
não fosse o Alzheimer, ou a Demência Vascular, ela viveria muito
mais. Pelo menos até o início da nona década. Ela merecia isso.
Eu
fui um fraco. Acomodei-me com a situação- totalmente desfavorável
a ela- com aquele médico incompetente, e nunca a levei a um
profissional alternativo. Desacreditei o tratamento medicamentoso que
a matou, mas nunca apresentei alternativa. Como as terapias de
reforço de memória. Limitei-me a aceitar o que decidiram para ela.
E a meus esporádicos exercícios de rememoração.
Pobre
mamãe. Não merecia sofrer tanto. Ela viveu menos de três anos
depois do diagnóstico. E o final foi tão amargo. Eu havia ido lá
no hospital na quinta-feira. Ela se despediu de mim. Ela disse:
“Tchau, Sergio”. Foi a última coisa que minha mãe me disse. Ela
disse à minha irmã, quase no seu último dia, “que estava com
medo de pensar”. Vocês entendem a dor que eu senti, e ainda sinto?
Um
ano depois do veredito médico tenebroso, ela estava a escrever :
“sozinha meditando em nossa sala”. Copiou uma parte de um rabisco
meu. Acrescentou coisas. Depois escreveu uma oração para ter paz na
casa. Nós demos agendas a ela, para estimular a escrita, que ela
sempre gostou. Ela tentou escrever. Marcava os dias e as horas. As
vezes com intervalo de 1 minuto. A sua luta foi inglória. Ela
tentou, e tentou. Mas a vida chegava ao fim, para ela.
Menos
de três anos, foi o que ela viveu depois da notícia dos médicos. Muito pouco tempo. O tratamento, quimioterápico, foi impiedoso
sobre o organismo dela. Toneladas de comprimidos a mataram. Seu tombo
foi causado por medicação. Poderia ser evitado. Todos nós erramos
com ela. Principalmente quando não notamos a insuficiência
cardíaca. Ela perdeu todo o preparo físico, e nós não a levamos a
um cardiologista. Seu geriatra disse que a condição dela, o enorme
débito físico “era função do Alzheimer”. E nós acreditamos...
E
assim foi embora minha mãe. Maltratada pela doença mal
diagnosticada. Seu tratamento apressou seu fim. Como acontece com
muitos outros idosos com algum tipo de demência. Se você tem algum
parente a cuidar com estas síndromes, mantenha a consciência de seu
ente querido o mais que puder. Não dê ouvidos demais aos médicos.
Deixe que seu pai ou mãe se divirtam, e retarde ao máximo qualquer tipo de
providência para privá-los da independência, já bastante limitada nesta idade.
Acima
de tudo, cuidado com o excesso de medicação. Proteja quem ama com
carinho, amor e conversas. Muitas conversas e diversão. Minha mãe
teve muito pouco das duas. Elas podem salvar seu pai ou a sua mãe de
um fim mais triste. Podem prolongar a qualidade de sua vidas.
Nenhum médico conhece nossos pais como nós
mesmos. Nunca desconfie de sua intuição. Se você tem uma, siga-a.
E esqueça o médico.
domingo, 18 de março de 2018
Para não dizer adeus
Um
ano após a morte de nossa mãe
Sergio
da Motta e AlbuquerqueHá um ano nossa mãe nos deixou. Um domingo havia terminado em 2017, e eu estava em casa, como hoje: sentado em frente à uma tela. Até chegar a comunicação de sua morte. Passado um ano e terminado o luto oficial, pouco consolo restou. A dor da perda não deu trégua e permanece. Toda manhã é a manhã seguinte da partida inaceitável da nossa mãe.
Nenhuma outra
personagem deixou marca tão profunda em seus filhos. Nossa mãe foi
mais que progenitora: foi nossa salvadora e campeã. Lutou por nós
todos os momentos de sua vida. Arrancou a cada um de nós das garras
da morte escura. Sem ela, somos nada. Ouviu, mãe? Não somos nada.
Recordo a sua
simplicidade nos últimos anos. Lembro a mamãe com aquele agasalho
vermelho e azul, e a boina na cabeça - para esconder a queda dos
cabelos. Nos lábios, sempre um sorriso. Que poderia ser irônico,
agressivo ou amoroso. Ou qualquer combinação entre os humores. E
ainda outros, insondáveis, coisas da alma mais profunda, que até
os filhos desconheciam.
Eu poderia ter
conhecido melhor minha mãe. Só nos tornamos verdadeiramente amigos
no final.
Nossa mãe morreu
consciente. O Alzheimer não levou a sua lucidez, de todo. Já no
Hospital, numa madrugada, ela pediu que nós, seus filhos “déssemos
as mãos”, naqueles seus derradeiros momentos. Nossa mãe pediu
nossa união antes de partir. Foi a última coisa que ela postulou.
Ela sabia que a sua hora havia chegado. Tentamos cumprir o que ele
determinou, em 2017. Mas a morte é um mal terrível e para ela não
há consolo.
Hoje eu não pude ou
não quis dormir. Não houve alívio no ano que passou. Só saudade e
muita melancolia. Não sei dizer adeus à ela. Há um mundo sem rumo
lá fora, e eu sigo a vida que posso viver. Sem a minha - sem a nossa
mãe. A amada a inesquecível vovó Neide, bisavó do Bento, da
Letícia, do Lucas e do Renezinho - nossa campeã de todas as horas -
por onde andará neste dia? Em alguma parte da Criação Divina (eu
Creio!)? No riso dos bisnetos? No amor sincero e profundo dos netos?
Nas saudades daqueles que não tiveram tempo de te conhecer, mas vão
te amar da mesma forma - ou até mais do que nós? Sem dúvida não
estás debaixo daquela lápide onde te deixamos, naquela manhã
ensolarada. Nós todos, que te queríamos tanto, que te amamos a cada dia em nossas vidas, perguntamos sem desejar resposta: onde
fostes que pareces ainda estar entre nós?
Minha irmã, Ana
Maria, pelo Whatsapp, qualificou bem nosso atual sentimento: “mamãe
eterna nos filhos”, ela escreveu. Eu concordei com ela. “Eterna
nos bisnetos”. De novo, apoiei minha irmã. Mamãe, vovó Neide e
bisavó. Ou “bisa”. Ou apenas “Bi’, para Letícia. A única a
ter o privilégio de ter brincado com a bisavó. Ela vai lembrar da
nossa mãe, e contar aos menores sobre todo o amor que ela tão
generosamente espalhou entre nós. As histórias da “Bi” começam
a tomar vida na família. De tudo isso, restou apenas a vontade de
ter vivido mais ao lado dela. De ter sido mais amigo, mais forte,
mais equilibrado e bem-sucedido. Tudo o que eu não fui.
Mãe, hoje eu só
tenho isto a dizer: entre nós não vai haver adeus.
Rio de Janeiro, 18-19 de setembro de 2018
terça-feira, 22 de agosto de 2017
Onça invadiu Palácio do Itamaraty e não atacou nem um corrupto!
Sergio de A.
Animais não faltam ao redor do Palácio do Itamaraty. Afinal, o nosso Distrito Federal fica no Oeste do Brasil, e a região têm fauna variada e abundante. Nesta segunda-feira (21/7), uma delas, do tipo "Pantera Onca", a famosa onça-pintada (ou Jaguar) passou pelas guaritas do Anexo 2 do Palácio desapercebida. Tranquilo, o animal caminhou, imponente, pelas dependências oficiais e foi embora sem ser notado por humanos. As câmeras registraram: (fonte: youtube, 22/7/2017)
O animal, que costuma caçar à noite, não encontrou nenhum político para mostrar seus "conhecimentos" em abater presas. A onça-zen passou, soberba, a ignorar a podridão que abrigamos em palácios. Pena ela não ter encontrado um grupo da "base aliada"....Que só faz coligações para roubar o povo. Cuidado, políticos! É hora "da onça beber água".....
Animais não faltam ao redor do Palácio do Itamaraty. Afinal, o nosso Distrito Federal fica no Oeste do Brasil, e a região têm fauna variada e abundante. Nesta segunda-feira (21/7), uma delas, do tipo "Pantera Onca", a famosa onça-pintada (ou Jaguar) passou pelas guaritas do Anexo 2 do Palácio desapercebida. Tranquilo, o animal caminhou, imponente, pelas dependências oficiais e foi embora sem ser notado por humanos. As câmeras registraram: (fonte: youtube, 22/7/2017)
O animal, que costuma caçar à noite, não encontrou nenhum político para mostrar seus "conhecimentos" em abater presas. A onça-zen passou, soberba, a ignorar a podridão que abrigamos em palácios. Pena ela não ter encontrado um grupo da "base aliada"....Que só faz coligações para roubar o povo. Cuidado, políticos! É hora "da onça beber água".....
sexta-feira, 7 de julho de 2017
Eu
tenho saudades
Sergio
da Motta e Albuquerque
Eu tenho saudades
dos bares antigos, das mesas de mármore e do ar respeitoso da gente
que os frequentava. Eu tenho saudades dos telefones pretos, que não
informavam nossas vidas às grandes empresas e destruíam nossas
vidas privadas. Eu tenho saudades da vida privada e da pública
também. Pois hoje as tecnologias de comunicação distorcem vidas
humanas e criam sociedades de seres desequilibrados. Que não sabem
estabelecer bem a diferença entre o que deveria ser íntimo e
privado, e nunca público ou publicado.
Eu tenho saudades da
vida mais simples, dos livros de papel e dos jornais das bancas. E do
café com leite nas manhãs. Eu tenho saudades do jornalismo de
verdade, e de mentira, como as crônicas de Nelson Rodrigues. Eu
tenho saudades de um Brasil mais pobre e honrado. Que tinha uma
fisionomia distinta das outras do planeta, e já não tem mais. Hoje
somos como os outros países e os outros povos; queremos apenas
consumir mais.
Eu tenho saudades da
velha política, quando minha mãe levava-me à Câmara dos
Deputados, que ficava no Rio de Janeiro, à Rua Primeiro de Março.
Ela me dizia: “- Sergio, o Deputado Abelardo Jurema é líder da
minoria, e só tem um terno”. Quantos ternos têm nossos
congressistas hoje? Eduardo Cunha, quantos tem e não pode usar onde
está? Minha mãe apontou a virtude rara de um político no velho Rio
de Janeiro. E por falar na minha cidade, eu tenho saudades do Rio, a
Capital da República. Pois Brasília aviltou nossa cidade
maravilhosa e fez dela um covil de bandidos, onde crianças são
baleadas nas escolas todas as semanas.
Quem duvida que a
decadência do Rio foi causada pela transferência da capital para o
centro do Brasil não conheceu e viveu no Rio, Capital da República.
Não haveriam as quadrilhas super-armadas com o presidente da
república aqui na cidade que já foi maravilhosa. Eu tenho saudades
de quando não existia Brasília e sua corja de ladrões bilionários,
e do Brasil que existia antes dela. E do povo que saía as ruas para
enfrentar governos e fazer guerrilha contra a ditadura. E da vergonha
na cara, pois não vejo as ruas cheias de gente a protestar contra o
governo mais infeliz de nossa história, e sua insana pretensão de
continuar governar.
Eu tenho saudades do
amor. Que se encontrava nas tardes de domingo, quando íamos aos
cinemas. Eu tenho saudades deles , também. Dos cinemas nas ruas,
praças e avenidas Eu tenho saudades das quitandas de vendedores
portugueses e brasileiros, e odeio “shopping centers” e sua
estética do mau-gosto de cidade americana. Eu tenho saudades de
quando não existia a Barra da Tijuca, e nós íamos passear lá e
ver o caimão nadar na lagoa escura naquela região ainda selvagem.
Eu tenho saudades de
jogar linha de passe na cimeira mais alta alto do Corcovado, a 800
metros de altura, com dois amigos e uma bola pequena. Tínhamos o
Cristo Redentor só para nós, em 1979. Eu, Ricardo e Luís Antônio
jogávamos ali, com a permissão de um policial que deveria estar de
guarda, mas já era madrugada e ele dormia, junto com a cidade
inteira. E nós ali, a jogar, à beira do precipício. Qualquer
descontrole, e a bola caía no abismo. Assim acabavam todos os jogos.
Eu tenho muitas lembranças desses brinquedos com meus amigos. Éramos
vagabundos e irresponsáveis, por revolta contra um regime que não
deixava um jovem explorar sua capacidade criativa. Havia censura.
Havia ameaça. Havia prisão, tortura e morte. Havia covardia. E
rebeldia. Que um dia me cobraria preço muito alto.
Hoje olho para trás,
ingrato. Não conto as minhas bênçãos. A idade chegou e com ela
as lembranças que confortam e as certezas que desesperam por não
termos mais tempo. Só legados a terceiros. Não poderemos fazer tudo
o que planejamos. Não temos mais tempo. E ainda temos tanto a dar.
Mesmo assim, a sociedade nos afasta. Não nos quer. Porque temos mais
de 60 anos de idade. Pouco importa nossa real condição física,
intelectual ou mental.
Eu tenho saudade dos
amores que perdi por mau gênio. Por auto-suficiência da juventude.
E agora, aos 62 anos, creio ter ainda algum tempo para lembrar o que
ficou para trás e nunca será resolvido. A vida é assim: algumas
coisas jamais serão resolvidas. Jamais chegarão a termo. Deixaremos
este mundo sem que nossas vontades e caprichos se cumpram. Porque
Deus nos quer mais humildes, e não reizinhos imprestáveis.
Eu tenho saudades de
Deus.
Rio de Janeiro, Sete de Julho de 2017
segunda-feira, 3 de abril de 2017
Cheiro de sangue e de morte
Sergio
O que mais me
impressiona nos homens é a hipocrisia: todos se consideram
solidários e humanistas. Todos se julgam ótimas pessoas, segundo
suas próprias estimativas. Os brasileiros, então, são campeões
mundiais em perfídia. Deles é melhor esconder qualquer tipo de
problema, fracasso ou sofrimento. Ele sentem o cheiro do sangue e da
morte, e se tomarem conhecimento de graves problemas em alguma
pessoa, fugirão dela como o diabo da cruz. Por isso, se alguém
quiser manter amizades é melhor aprender a mentir e fingir que está
tudo bem sempre. Contar vantagens e disfarçar a dor. Mas, sobretudo,
o fundamental é nunca mostrar o sofrimento como uma realidade
concreta e inevitável. Todos se afastarão de você como se
tivesses lepra. Isso vale para gente da esquerda e da direita: é
coisa dos homens, e deles não se pode esperar coisa melhor.
sábado, 25 de março de 2017
Dona Neide chega ao Céu
Do seu eterno filho
Sergio
São
Pedro nem viu, mas percebeu o turbilhão na entrada do Portal
Celestial. “-O que houve aqui?”, perguntou então o apóstolo
guardião. “-Alguém ousou entrar sem autorização?” O Santo
chamou um anjo-auxiliar - uma criatura imaterial que o ajuda em sua
atividade - e disse a ele: “-Quem estava sendo programado para
recebermos hoje, no dia de São José? Olhe a lista.”
O
Arcanjo verificou seus registros, iniciou a ladainha de nomes e
parou. Pedro protestou: “-Parou por quê? Vamos logo, Anjo
preguiçoso”. Pedro sempre teve aquele jeito meio intempestivo.
Jesus o escalou para continuar seu trabalho depois Dele por causa
disto: ele era forte e combativo, mas sabia a hora de calar e ceder
diante do perigo. Só para viver e lutar em dia mais propício. Se
não tivesse negado o Cristo aos romanos, não viveria para suceder o
Senhor aqui na terra. Pedro era meio malandro. Homem sábio e bom,
mas de temperamento difícil.
O
anjo respondeu: “-Era ela, Senhor”. Era ela!”
“Ela
quem, inspetor? Quem passou e entrou sem minha supervisão?”,
arguiu Pedro.
O
espírito sutil respondeu:
“
- Era a Dona Neide do Cartório. Ela entrou com uma Procuração de
Alguém Muito Importante, meu Senhor”.
Pedro
não gostou: “-PROCURAÇÃO? Aqui no Céu não....” Depois parou.
Era a Dona Neide que se apresentava a ele. Ela disse:
”-
Perdão, meu Santo. Mas eu tenho uma procuração, um documento do
Seu Chefe. Com firma reconhecida”. Eu entrei e falei direto com seu
Superior. Depois, voltei. Perdão, São Pedro. O Santo espantou-se
com o atrevimento. Ela pretendia representar a quem? Quem ousara
invadir o Paraíso, para reconhecer a “firma” de Deus, O Criador?
E disparou, com seu mau gênio:
“-Aqui,
sem minha permissão, os Portões não abrem”, avisou. E a senhora
já entrou sem conferência. Passou por cima de mim. A senhora está
irregular. I-rre-gu-lar!”, irritou-se o santo. Foi quando um grande
estrondo ribombou lá no Céu. Todos calaram. Uma Voz Poderosa
Anunciou:
“-
Essa é a Dona Neide, Pedro”. Não lembras dela, na Igreja dos
Capuchinhos? Ela rezava lá com seu marido, Gilberto, durante aquela
Grande Guerra nos anos de 1940. Lembra que eles iam namorar na Praça
Afonso Pena? E de como fora felizes até eu chamar o Gilberto?
Aquele, do violão? Homem muito gentil.”
Pedro
ficou intrigado. O Criador falava por Ela. Deveria ser gente muito
especial. Ele comentou:”-Senhor, eu não entendo. Todos tem que
passar por mim. Mas ela violou minha regra e ludibriou meu controle."
A
Suprema Voz do Universo ensinou: “-Há algumas poucas pessoas que
passam por ti, Pedro, sem que percebas. Elas vêm direto a mim.”
Pedro, que sempre foi meio lento para entender as coisas, insistiu,
perplexo:
“-Quem
foi ela, Senhor? Por que ela entrou sem que eu visse? “ O Criador
respondeu: “É por essas e outras que tu sofrestes tanto, Pedro.
Mas também foi por isso que te escolhi: és persistente como pedra.
Se Eu não fosse quem sou, perderia a paciência contigo”. E o
Senhor explicou:
”
- A Dona Neide é um espírito livre. Um caso raro de fé em ação.
Seu temperamento não era fácil. Não foi simples conviver com ela.
Mas ela um dia escreveu algo que chegou a mim, de forma direta. Pelo
meu canal exclusivo. Ela escreveu tudo já doente, em agosto de 2015.
Leia aqui, Pedro:
Ali
estava um pedaço do que parecia papel, mas era apenas substância
anímica, etérea e imaterial:
Nele
estava escrito:
“- São José. O Esquecido e renegado "Santo das causas impossíveis". São
José não tratou apenas do impossível. Ele cuidou e protegeu o
Messias , enquanto ainda era um bebê, e depois ainda ensinou-lhe
profissão. Ele construiu o abrigo que protegeu o Senhor”. Depois ,
ela acrescentou, em agosto de 2015: “-São 14: 57. Estou na nossa
sala, meditando. 14: 58”, ela anotou. Ela tentava orientar-se no
tempo e no espaço, Pedro. Notou que ela registrou a hora e o local
onde estava? Brava mulher! Eu vi que ela lutava com desespero, Pedro,
contra um mal que a iria levar daquele mundo. Ela não se rendeu à
tristeza. Continuou a luta enquanto pôde. Observe a generosidade: ela escreveu "nossa sala". Nossa, Pedro. Nossa. Dela, dos filhos e dos netos. Daquele dia em diante eu
garanti seu lugar aqui. Ela terá assento Eterno entre nós , paz e
trabalho. Pedro estranhou um detalhe: “-Trabalho, aqui em cima?
Perguntou. O Senhor de Toda Bondade explicou:”- Ela não vive sem
ocupação, Simão Pedro. Vá entender: Eu descansei, depois de
Criar o Universo. Mas ela quer continuar. Que seja, então”. E
prosseguiu o Senhor:
“-Por
isso, Pedro, eu a chamei no dia de São José, e dei a ela o que ela
sempre gostou: um documento dos Registros Celestiais para ela
reelaborar e apresentar a ti”.
Pedro
Insistiu:”-Mas e a Regra do Portão, Senhor? Acaso sou apenas um
porteiro? Ela furou a fila, Senhor. E ainda recebeu um presente?”
Pedro sempre foi ousado e agressivo. O Senhor, em sua imensa
Magnanimidade, encerrou o assunto:
“- Pedro,
Pedro. Tu não sabes tudo. Se eu não fosse quem sou, já teria me
livrado de ti. Que sujeito mais teimoso! A Dona Neide não sabe ficar
sem fazer nada. Ela precisa de trabalho. Necessita senti-se útil.
Por isso eu dei uma atividade a ela. Que vai trabalhar aqui, agora. Essa
senhora viveu uma vida justa e limpa, homem de pouca Fé. Dona Neide
fez de sua estada entre os homens um sendeiro luminoso. Protegeu os
pobres, ajudou o Seu Rubens. Lembras dele, Pedro? Parecia um pouco
com contigo. Ele dormia na rua, abandonado pela família, pobre
demais para sustentá-lo. Eu Olhei por ele. Vi seu sofrimento. Ela o
encaminhou para um programa social, deu a ele roupas e lhe devolveu a
dignidade. Lembra do Rubens, Pedro? Ele voltou para sua família, e
foi feliz mais uma vez entre eles, antes que Eu o chamasse. Aquela
mulher fez o que Meu Amado Filho anunciou: 'o que fizeres ao menor
dos meus, é a Mim que o fazes'. Entendes agora, Pedro?”
O
rosto de Pedro iluminou-se. Ele recordou-se da Dona Neide. “Lembrei,
Meu Senhor! Ela havia aqui estado às Portas do Paraíso há alguns
meses. Nós a fizemos voltar. Seus filhos ainda estavam muito
confusos. Muito tristes e perdidos. Com muito medo de perder a mãe.
Ela voltou lá para baixo, por alguns meses. Depois não soube mais
dela. O trabalho aqui é muito e pesado”, reclamou. O Senhor
continuou:
“Ela
já está Comigo há anos, Pedro. Apenas não podia ir naquela hora.
Iria machucar muita gente. Ela tocou vidas, mudou destinos e esqueceu
de si mesma. Perdeu-se por Amor a Mim. Era uma Alma complicada, mas
muito gentil. Vai ser bom tê-la por perto , Pedro. Tu vais ver.”
Pedro
completou: “Eu lembro dela, Senhor. Lembro sua trajetória. Dona
Neide, do Ministério da Fazenda, da Secretaria de Administração,
do Cartório. Da Igreja dos Capuchinhos, do coração de ouro e do gênio difícil. Foi ela quem
passou por mim , e nem me respondeu ou parou para ouvir minha proclamação.”
Até
o Senhor parecia perder a paciência com Pedro.
“-Aqui
tu sabes que não decides nada, Pedro. Essa mulher veio direto a mim.
Ela sofreu muito nos seus últimos dias. Eu vi a força quase desesperada de suas orações, em sua casa e lá no hospital. Mas Ela veio em Paz, e agora vai
trabalhar conosco na Serventia Celestial. Ela chegou a Mim, porque eu a
chamei direto e sem intermediação. Ela agora é a registradora do
Céu. Eu não preciso disso nem tu. Mas eu dei o cargo a ela porque é
um presente que ela precisa. Ainda. Eu sei. Sou O Onisciente, Onipresente, o Eterno Inexistente. Não sou um ser, como tu fostes, Pedro. Com início e fim. Eu sou o Senhor do
Universo, o Ato Perfeito. A Dona Neide ainda vai ajudar muita gente, daqui do céu.
Seu trabalho continua. Entendes agora, cabeça-dura?”
Pedro
abriu um enorme sorriso. “-Com ela aqui, eu vou poder descansar.
Senhor. Trabalho não falta é ela é boa de serviço. Glória a Ti , Eterno Soberano. Dona Neide vai fazer todo o Universo brilhar.
Ele anda meio fosco. Principalmente o Brasil. Não achas, Meu
Senhor?”
O
Senhor então sorriu, Soberano e Bondoso, e disse: “-Verdade,
Pedro. Eles sempre escolhem o caminho mais difícil, naquele país. E depois ainda dizem que Eu sou brasileiro. Sabe, Pedro, Eu dei a
eles o livre arbítrio porque não quero saber de política. Não gosto de discórdia, roubos, corrupção e abusos contra os mais pobres. Política é coisa dos homens. Por isso mesmo é tão suja e a maior razão de
seu sofrimento”. E depois proclamou, Imperial:
“-
Essa é minha Dona Neide. Abra caminho, Pedro. Dê espaço a ela.
Deixe-a trabalhar. Ela agora faz o que sempre quis: obra pelo bem
comum, sempre atendendo a todos, cada um de forma diferente. Ela
sempre teve esta sabedoria: tratar pessoas diferentes de forma
diferente. Ela é minha filha querida. Que ninguém se preocupe com
seu espírito, pois ele é Meu e voltou para Mim. Eu responderei por
ele. Eu, o Senhor da Vida e da Morte, decreto agora e sempre a
felicidade eterna da Dona Neide. Que sejam publicadas nas proclamas
celestiais: Aqui está mais uma Filha amada. Junto de Mim para
sempre. Aqueles que hoje choram serão consolados. Ela me pediu que
olhasse por eles.”
“-Os
filhos?”, perguntou Pedro, ansioso. O Senhor disse: “-Sim, eles
mesmos. Agora estão meio perdidos. É natural. Ela era uma pessoa
muito marcante. Mas tu conheces minha Justiça. Eu sou Aquele que
Chamam de O Eterno Compensador. Pois eu trago de volta o equilíbrio
e a razão onde quer que se precise. Eu compenso as perdas, os ganhos
e ponho tudo em equilíbrio. Hoje eles choram. São humanos. Mas ela
vê tudo com outros olhos, agora. Ela está comigo, e Eu a Consolei.
Todas as suas preocupações se foram. Eu cuidarei dos seus filhos. Ela hoje é imaterial, mais
leve que o ar. Que haja paz no mundo. Que haja Perdão e tolerância.
A Dona Neide chegou ao Céu. Ela agora é Eterna Comigo.”
Pedro
tinha os olhos cheios d'água. “-No céu também se chora”,
consolou o Criador, “- nunca de tristeza, mas por Louvor. Por amor
aqueles que lutam pela redenção de suas almas na vida dura na
terra. São lágrimas de amor, que homem algum jamais chorou. Pedro,
mais uma vez, questionou o Criador: “- Senhor, essa frase não é
aquela da musica do Beto Guedes, “Lágrima de Amor?”
Pedro
as vezes era temerário e abusado. O Senhor o repreendeu: “- A
letra é dele, sim. Mas a Inspiração é Minha. De onde achas que
vêm as grandes canções lá na terra? Quem pôs nas mãos, ouvidos
e corações dos músicos o dom de encantar as gentes? Aqueles
deuses impostores dos gregos e romanos? Apolo? O pobre Orfeu, o amado
de Eurídice? Eu o ensinei a tocar a lira, Pedro, para que enganasse
o senhor da morte. E mesmo assim o pobre sofredor não resistiu à
tentação e perdeu a sua amada. Pobre homem. Por eles enviei Meu
Filho”. E prosseguiu:
“-Não
é pranto, aquilo que parece choro lá no céu, meu caro Kefás, mas
oração e trabalho de ajuda a quem sofre, instruiu o Senhor. “-
Aquieta o coração, Pedro”, disse o Rei do Universo. A Dona Neide
é assim: comove o mundo, move montanhas e nunca desiste. Calma ,
meu servo amado. Eu sei o poder que ela tem: Eu mesmo O dei a Ela.
Cuida bem da Dona Neide, Pedro. Ela é uma das minhas eleitas. E veio
para ficar Comigo”.
São
Pedro entendeu tudo e calou-se, comovido. O Senhor Nosso Deus é o
Maior contador de todas as Histórias do Universo, e o Editor-Mor de toda a Criação.
Suas narrativas nos transportam a outros mundos, onde a dor não
existe e os Mistérios da Vida adquirem sentido, ao final de nossas
jornadas. Nossa mãe agora os entende. Ela nos consolará.
***************************************
O
documento sobre São José está comigo, escrito de punho por minha
mãe, em Agosto de 2015. Ela está em paz, e que ninguém acredite
que seu espírito não pode evoluir, por conta do pranto de quem a
amava e ama. Só o Senhor Sabe essas coisas. E agora Ele contou Tudo
a Ela. Mamãe está com Deus, em Paz. Eu não. Mas estarei bem,
quando chegar a hora. Ainda não fez uma semana que ela se foi.
Agradeço
as todos os que se preocuparam comigo. De verdade. De hoje em diante
serão todos meus irmãos, pois testemunharam minha dor , e me
confortaram.
Fique
com Deus, mamãe. Saberemos viver só da tua lembrança. Um dia nos
veremos. E voltaremos a sorrir.
quarta-feira, 22 de março de 2017
Carta à minha prima Lúcia
Prima Lucia:
Eu não tive a
coragem, durante as exéquias de minha mãe, de entrar na capela
mortuária. A dor era imensa. O que aconteceria se eu entrasse? Tive
medo a noite inteira e não dormi. Encontrei o Rafael, o Mario
Valente e o Eugênio no lado de fora. E alguns outros homens de bem.
Foram a Guarda de Honra informal de minha mãe. A Nobre Escolta da
Dona Neide.
Disse a eles que ia
dar uma volta. E fui. Só para retornar aflito e entrar, como criança
com medo, ao local do qual fugira em susto e dor. Entrei.
Tu
estavas lá e o abraço veio, espontâneo. Ele me confortou. E muito.
Foi quase sobrenatural. Teve o poder de diminuir a minha dor. Era
como se pudesses transmitir a mim a energia dela, já acabada (?).
Prima, teu abraço me salvou naquele dia triste. Foi como abraçar
minha mãe pela última vez. Hoje, eu (talvez pelo meu transtorno
imenso), acredito que o que aconteceu foi um tipo de milagre. Uma
graça recebida. Eu pude chorar um pouco sem ser ou me sentir
oprimido. Obrigado, minha prima. Somos considerados “secos” (nós,
desta família). Minhas irmãs são desérticas, em suas emoções
comigo. Chorar, em frente a elas, nem pensar. Mas nem todos nós
somos assim. Eu não me importo com prantos. Carlos Santana, o
guitarrista, em 1991, disse que “não há problema algum em chorar.
No céu é assim”, disse o músico. Eu concordo. Com uma ressalva. No Céu não se chora por dor, mas por emoção ainda mais digna: o
amor a todos os homens e mulheres em busca da redenção.
Obrigado,
prima querida.
Sergio da Motta e Albuquerque
terça-feira, 21 de março de 2017
O mundo sem a minha mãe
Sergio da Motta e Albuquerque
Hoje eu disse adeus
à minha mãe. Ela dorme, agora, em uma tumba do Cemitério de São
Francisco Xavier. Nada mais sente. Não posso acreditar que nunca
mais irei vê-la. Sua imagem, a rezar quase possessa ao final de sua jornada, está fixa em
minha alma. Ela sabia que seu fim se aproximava. Sofreu muito
antes de partir. E não merecia. É duro saber que não posso mais
contar com ela. Não sei bem ao certo como continuar a viver. Ela se
foi para sempre. No dia de São José. E deixou este filho aqui,
perdido e desprezado pela família. Não tenho mais vontade de viver.
sábado, 25 de fevereiro de 2017
A menina alemã
Sergio da Motta e Albuquerque
![]() |
fonte:Youtube |
No início dos anos 60 eu e minhas irmãs vivíamos, com nossos pais, em um condomínio fechado na Zona Norte do Rio de Janeiro. Lá vivia também uma família alemã. Uma casal idoso que trazia sua neta para brincar conosco. Não sei muito bem por quê: era gente fechada que não mantinha contato com nossos vizinhos. A casa deles era diferente, quase toda fechada, e parecia dizer à nós todos que eles queriam ficar ali sem ser incomodados.
Mas eu lembro que nós, eu e minha irmã mais velha, costumávamos frequentar a casa e brincar com a garota. Seu nome era Martine, e ela era neta do Sr. Franz e da Dona Katharina. Ela nunca conseguiu entender muito bem o Brasil. Fazia confusão, e acreditava que nós (eu e minha irmã) éramos uma gente meio árabe, meio espanhola. Eu ficava entretido com os devaneios e as interpretações teatrais de Martine sobre o que ela imaginava ser a minha família. Ela dançava, fingia tocar castanholas e representava um mundo que estava tão distante dela quanto o meu. Era divertido. E ela era bonita. Alta, loura e inteligente.
“Eu também tenho uma tia, que se chama Tereza Martinez de La Vega”, dizia ela. Era o tempo do “Zorro” , da televisão. E de Dom Diego de La Vega. O pai do Zorro. Nós não entendíamos muito bem o que ela queria dizer com aquilo: nós falávamos português e não tínhamos parentes árabes ou espanhóis. Mas ela insistia em nos perceber como uma mistura entre os dois.
Um dia nós fomos procurar nossa amiga germânica, quando notamos a confusão na porta da casa de seus avós. Estranhamos bastante: nunca havia ninguém ali, e eles não mantinham relações muito próximas com o pessoal do bairro. Naquele dia foi diferente.
Quando chegamos mais perto, eu ouvi a Dona Katharina dizer: “- Eles mataram o Franz. Mataram o Franz!”. Isso bastou para nos fazer voltar para casa. O assunto era sério. Estava nos jornais. Lembro de meu pai a ler sobre o caso. Ninguém comentou nada conosco. A infância era bem diferente, naquela época.
Nunca soubemos o que de fato aconteceu com o sr. Franz. Seria ele um nazista fugitivo? Por isso eles eram tão reclusos? Onde estava nossa amiga, e quem eram eles, afinal?
O tempo passou e nós nunca tivemos resposta sobre aqueles acontecimentos daquele dia distante. Dona Katharina nunca mais foi encontrada depois daquela manhã. E nós também nunca mais vimos Martine.
Reflexões em um carnaval decadente
Reflexão interessante no programa do Sergio Besserman no Canal Curta (!) " O Caminho do Bem". Assuntos importantes são debatidos lá, sob a ótica do pensamento de diversas religiões e crenças. Na sábado (25/11) o tema foi a morte. Um pastor presbiteriano explicou a tese de Pascal: "Quem se suicida também está em busca da felicidade". Verdade. Mas o mundo não percebe assim.
O suicida não procura sofrimento, ou fuga. Ele, como qualquer um de nós, busca alguma forma de ser feliz. Se não isso, um modo do viver com menos sofrimento, já que a dor é inevitável nesta vida. Infelizmente, o pensamento religioso, autoritário e condenador, não aceita isso. E a miséria acaba imposta. Em nome do amor, impõe-se a aflição sem saída.
sexta-feira, 17 de fevereiro de 2017
Surrealismo de fundo de gaveta
Uma vez fui surrealista. Não lembrava mais desta fase quando, a revirar
documentos, encontrei um velho escrito, em papel datilografado em
1990. Nele havia um poema:
Poema
Freudiano
Cataratas
de lágrimas
formam
catedrais submarinas
num
desenho sofrido e cansado
universo
dos desejos submersos.
No
inconsciente louco e atormentado
o
sonho serve ao seu desejo,
e a
vida vai, sem piedade.
A
narrativa que segue o estranho exercício literário e não me é
estranha, todavia. Fala de amores inconfessos, e da possibilidade das
paixões que fogem às nossa consciências. “Escrever”, rabisquei
eu naquele dia, “é uma paixão que deve ser reverenciada”. Edgar
Allan Poe? Já sei de onde tirei as catedrais submarinas. De uma obra
dele e suas imagens surrealistas. Tenho uma ótima edição de bolso
de algumas de suas melhores elaborações. Mas ando em crise
organizacional com meus livros, e várias vezes tive que procurar por
eles na web: o Google organiza meus livros e textos melhor que eu.
Que não encontrei o livro do escrito norte-americano. Esta não é uma reportagem e eu não
preciso citar fontes. Hoje vale o sentimento.
Em
1990, eu estava no último ano da faculdade. Tinha, junto com amigos e amigas uma casa alugada em Búzios. Que ainda não era
o inferno que é hoje. Lembro com saudades daquelas tardes lá na
pequena vila de pescadores. Recordo as brincadeiras de quintal, e do
grupo norte americano REM a tocar “This nos goes to the one I love.
This one one goes to the the one I left, behind”. Ou seja, “esta
vai para para aquela que amo . Ela vai para quem eu deixei para
trás”, dizia a canção. Que eu sempre gostei e nunca esqueci.
Naquelas
tardes em Búzios eu acreditava ter o mundo sob meu controle, sem
saber que na realidade tudo começava a me escapar. Com minha
pretensão a domínios e posses, perdi tempo, amigos e afetos nesta
vida. Pelo menos é o que sugerem o velho manuscrito e a vida
que hoje levo em 2017.
segunda-feira, 30 de janeiro de 2017
Ainda sobre russos, edições e êrros na informação digital
Sergio da Motta e Albuquerque
Eu estava a assistir
o programa “Livros
que amei” (outra boa ideia do canal “Curta!”, 30/1),
apresentado por um jovem ensaísta convidado para apresentar ao
público as suas leituras. O rapaz não economizou nos autores:
Nietzsche, Tolstoi e Roland Barthes. Quando se é jovem, agimos como
super-potências. Nossa ousadia não tem limites.
Pois bem, o
convidado exibiu erudição , mas disse que o nobre escritor russo
“contestava a Igreja Católica”. Eu nunca ouvi falar na briga do
príncipe Leon Tolstoi com a Igreja de Roma porque ele nasceu
ortodoxo, como 99% dos russos. Talvez o ensaísta tenha
simplificado seu discurso para uma audiência maior. Não sei. Tudo
poderia ser resolvido se houvesse edição no programa. Edição com
competência em História, Literatura e Geografia. E bom senso.
Alguém que não deixasse o jovem escritor fazer uma declaração
equivocada em público Estou pedindo muito?
A falta de edição
é uma das pragas da mídia de massas contemporânea. Eu também
cometo meus erros. No dia 11, publiquei uma foto de um suposto
porta-aviões russo que na realidade era americano. A matéria acabou
na capa de um jornal da pequena imprensa. Com uma palavra faltando,
logo no primeiro parágrafo. Não tive opção a não ser “abater”
a mesma. Foi retirada por mim da edição com 56 comentários. O
publicador invisível não gostou do “buraco” na primeira página
dele. Ele é um jornalista famoso e experiente. Não entendo seu
descuido com aquilo que publica, de um ponto de vista
técnico-formal.
Se houvesse edição
séria, que tivesse lido pelo menos os dois primeiros parágrafos,
nada disso teria acontecido e a integridade do jornal não teria sido
violada. Mesmo que eu tenha eventualmente corrigido a matéria (com a
devida nota de rodapé a explicar a edição anterior, com erro), o
texto ficou de fora daquele dia do periódico. Mas não é admissível
uma publicação que se pretende séria publicar títulos que não
foram sequer lidos. Na primeira página. A “racional (sic)” é a seguinte: “O título
é bom, boas fotos (uma delas errada), um bom gráfico...Publique-se sem
maiores considerações”. Ou edição.
Durante seis anos
publiquei em um veículo da mídia muito conhecido. Nos cinco
primeiros anos a edição foi firme. O toque do editor era visível.
Correções eram feitas. Os autores podiam atualizar seus textos.
Não é possível fazer jornalismo na web sem atualizações.
Observem as maiores revistas mundiais de tecnologia na web. Na Wired,
a Ars Technica a CNET e outras, seus artigos estão cheios de
registros de alterações. Porque o texto da web demanda depuração
(debug), acréscimos e muitas vezes da colaboração dos leitores.
Quem coordena tudo
isso é o editor. Não podemos viver sem eles.
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Tech online

Documentário "A Revolução digital" - The Digital Revolution"
Assista ele todo aqui:
http://topdocumentaryfilms.com/virtual-revolution/
Este abaixo é o episódio 1. os outros estão na mesma página (são 4 no total).
http://www.youtube.com/watch?v=NPD4Ep_J81k&list=PL114B076F2F7AA761&feature=player_embedded
"The Virtual Revolution" - Full Documentary here or on Youtube ( in 4 episodes). (see disclaimer below)
"Twenty years on from the invention of the World Wide Web, Dr Aleks Krotoski looks at how it is reshaping almost every aspect of our lives.Joined by some of the web’s biggest names – including the founders of Facebook, Twitter, Amazon, Apple and Microsoft, and the web’s inventor – she explores how far the web has lived up to its early promise". Watch the documentary here:
http://topdocumentaryfilms.com/virtual-revolution/ (full documentary)
This bellow is episode 1. The others (4) are in the same page.
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