Do seu eterno filho
Sergio
São
Pedro nem viu, mas percebeu o turbilhão na entrada do Portal
Celestial. “-O que houve aqui?”, perguntou então o apóstolo
guardião. “-Alguém ousou entrar sem autorização?” O Santo
chamou um anjo-auxiliar - uma criatura imaterial que o ajuda em sua
atividade - e disse a ele: “-Quem estava sendo programado para
recebermos hoje, no dia de São José? Olhe a lista.”
O
Arcanjo verificou seus registros, iniciou a ladainha de nomes e
parou. Pedro protestou: “-Parou por quê? Vamos logo, Anjo
preguiçoso”. Pedro sempre teve aquele jeito meio intempestivo.
Jesus o escalou para continuar seu trabalho depois Dele por causa
disto: ele era forte e combativo, mas sabia a hora de calar e ceder
diante do perigo. Só para viver e lutar em dia mais propício. Se
não tivesse negado o Cristo aos romanos, não viveria para suceder o
Senhor aqui na terra. Pedro era meio malandro. Homem sábio e bom,
mas de temperamento difícil.
O
anjo respondeu: “-Era ela, Senhor”. Era ela!”
“Ela
quem, inspetor? Quem passou e entrou sem minha supervisão?”,
arguiu Pedro.
O
espírito sutil respondeu:
“
- Era a Dona Neide do Cartório. Ela entrou com uma Procuração de
Alguém Muito Importante, meu Senhor”.
Pedro
não gostou: “-PROCURAÇÃO? Aqui no Céu não....” Depois parou.
Era a Dona Neide que se apresentava a ele. Ela disse:
”-
Perdão, meu Santo. Mas eu tenho uma procuração, um documento do
Seu Chefe. Com firma reconhecida”. Eu entrei e falei direto com seu
Superior. Depois, voltei. Perdão, São Pedro. O Santo espantou-se
com o atrevimento. Ela pretendia representar a quem? Quem ousara
invadir o Paraíso, para reconhecer a “firma” de Deus, O Criador?
E disparou, com seu mau gênio:
“-Aqui,
sem minha permissão, os Portões não abrem”, avisou. E a senhora
já entrou sem conferência. Passou por cima de mim. A senhora está
irregular. I-rre-gu-lar!”, irritou-se o santo. Foi quando um grande
estrondo ribombou lá no Céu. Todos calaram. Uma Voz Poderosa
Anunciou:
“-
Essa é a Dona Neide, Pedro”. Não lembras dela, na Igreja dos
Capuchinhos? Ela rezava lá com seu marido, Gilberto, durante aquela
Grande Guerra nos anos de 1940. Lembra que eles iam namorar na Praça
Afonso Pena? E de como fora felizes até eu chamar o Gilberto?
Aquele, do violão? Homem muito gentil.”
Pedro
ficou intrigado. O Criador falava por Ela. Deveria ser gente muito
especial. Ele comentou:”-Senhor, eu não entendo. Todos tem que
passar por mim. Mas ela violou minha regra e ludibriou meu controle."
A
Suprema Voz do Universo ensinou: “-Há algumas poucas pessoas que
passam por ti, Pedro, sem que percebas. Elas vêm direto a mim.”
Pedro, que sempre foi meio lento para entender as coisas, insistiu,
perplexo:
“-Quem
foi ela, Senhor? Por que ela entrou sem que eu visse? “ O Criador
respondeu: “É por essas e outras que tu sofrestes tanto, Pedro.
Mas também foi por isso que te escolhi: és persistente como pedra.
Se Eu não fosse quem sou, perderia a paciência contigo”. E o
Senhor explicou:
”
- A Dona Neide é um espírito livre. Um caso raro de fé em ação.
Seu temperamento não era fácil. Não foi simples conviver com ela.
Mas ela um dia escreveu algo que chegou a mim, de forma direta. Pelo
meu canal exclusivo. Ela escreveu tudo já doente, em agosto de 2015.
Leia aqui, Pedro:
Ali
estava um pedaço do que parecia papel, mas era apenas substância
anímica, etérea e imaterial:
Nele
estava escrito:
“- São José. O Esquecido e renegado "Santo das causas impossíveis". São
José não tratou apenas do impossível. Ele cuidou e protegeu o
Messias , enquanto ainda era um bebê, e depois ainda ensinou-lhe
profissão. Ele construiu o abrigo que protegeu o Senhor”. Depois ,
ela acrescentou, em agosto de 2015: “-São 14: 57. Estou na nossa
sala, meditando. 14: 58”, ela anotou. Ela tentava orientar-se no
tempo e no espaço, Pedro. Notou que ela registrou a hora e o local
onde estava? Brava mulher! Eu vi que ela lutava com desespero, Pedro,
contra um mal que a iria levar daquele mundo. Ela não se rendeu à
tristeza. Continuou a luta enquanto pôde. Observe a generosidade: ela escreveu "nossa sala". Nossa, Pedro. Nossa. Dela, dos filhos e dos netos. Daquele dia em diante eu
garanti seu lugar aqui. Ela terá assento Eterno entre nós , paz e
trabalho. Pedro estranhou um detalhe: “-Trabalho, aqui em cima?
Perguntou. O Senhor de Toda Bondade explicou:”- Ela não vive sem
ocupação, Simão Pedro. Vá entender: Eu descansei, depois de
Criar o Universo. Mas ela quer continuar. Que seja, então”. E
prosseguiu o Senhor:
“-Por
isso, Pedro, eu a chamei no dia de São José, e dei a ela o que ela
sempre gostou: um documento dos Registros Celestiais para ela
reelaborar e apresentar a ti”.
Pedro
Insistiu:”-Mas e a Regra do Portão, Senhor? Acaso sou apenas um
porteiro? Ela furou a fila, Senhor. E ainda recebeu um presente?”
Pedro sempre foi ousado e agressivo. O Senhor, em sua imensa
Magnanimidade, encerrou o assunto:
“- Pedro,
Pedro. Tu não sabes tudo. Se eu não fosse quem sou, já teria me
livrado de ti. Que sujeito mais teimoso! A Dona Neide não sabe ficar
sem fazer nada. Ela precisa de trabalho. Necessita senti-se útil.
Por isso eu dei uma atividade a ela. Que vai trabalhar aqui, agora. Essa
senhora viveu uma vida justa e limpa, homem de pouca Fé. Dona Neide
fez de sua estada entre os homens um sendeiro luminoso. Protegeu os
pobres, ajudou o Seu Rubens. Lembras dele, Pedro? Parecia um pouco
com contigo. Ele dormia na rua, abandonado pela família, pobre
demais para sustentá-lo. Eu Olhei por ele. Vi seu sofrimento. Ela o
encaminhou para um programa social, deu a ele roupas e lhe devolveu a
dignidade. Lembra do Rubens, Pedro? Ele voltou para sua família, e
foi feliz mais uma vez entre eles, antes que Eu o chamasse. Aquela
mulher fez o que Meu Amado Filho anunciou: 'o que fizeres ao menor
dos meus, é a Mim que o fazes'. Entendes agora, Pedro?”
O
rosto de Pedro iluminou-se. Ele recordou-se da Dona Neide. “Lembrei,
Meu Senhor! Ela havia aqui estado às Portas do Paraíso há alguns
meses. Nós a fizemos voltar. Seus filhos ainda estavam muito
confusos. Muito tristes e perdidos. Com muito medo de perder a mãe.
Ela voltou lá para baixo, por alguns meses. Depois não soube mais
dela. O trabalho aqui é muito e pesado”, reclamou. O Senhor
continuou:
“Ela
já está Comigo há anos, Pedro. Apenas não podia ir naquela hora.
Iria machucar muita gente. Ela tocou vidas, mudou destinos e esqueceu
de si mesma. Perdeu-se por Amor a Mim. Era uma Alma complicada, mas
muito gentil. Vai ser bom tê-la por perto , Pedro. Tu vais ver.”
Pedro
completou: “Eu lembro dela, Senhor. Lembro sua trajetória. Dona
Neide, do Ministério da Fazenda, da Secretaria de Administração,
do Cartório. Da Igreja dos Capuchinhos, do coração de ouro e do gênio difícil. Foi ela quem
passou por mim , e nem me respondeu ou parou para ouvir minha proclamação.”
Até
o Senhor parecia perder a paciência com Pedro.
“-Aqui
tu sabes que não decides nada, Pedro. Essa mulher veio direto a mim.
Ela sofreu muito nos seus últimos dias. Eu vi a força quase desesperada de suas orações, em sua casa e lá no hospital. Mas Ela veio em Paz, e agora vai
trabalhar conosco na Serventia Celestial. Ela chegou a Mim, porque eu a
chamei direto e sem intermediação. Ela agora é a registradora do
Céu. Eu não preciso disso nem tu. Mas eu dei o cargo a ela porque é
um presente que ela precisa. Ainda. Eu sei. Sou O Onisciente, Onipresente, o Eterno Inexistente. Não sou um ser, como tu fostes, Pedro. Com início e fim. Eu sou o Senhor do
Universo, o Ato Perfeito. A Dona Neide ainda vai ajudar muita gente, daqui do céu.
Seu trabalho continua. Entendes agora, cabeça-dura?”
Pedro
abriu um enorme sorriso. “-Com ela aqui, eu vou poder descansar.
Senhor. Trabalho não falta é ela é boa de serviço. Glória a Ti , Eterno Soberano. Dona Neide vai fazer todo o Universo brilhar.
Ele anda meio fosco. Principalmente o Brasil. Não achas, Meu
Senhor?”
O
Senhor então sorriu, Soberano e Bondoso, e disse: “-Verdade,
Pedro. Eles sempre escolhem o caminho mais difícil, naquele país. E depois ainda dizem que Eu sou brasileiro. Sabe, Pedro, Eu dei a
eles o livre arbítrio porque não quero saber de política. Não gosto de discórdia, roubos, corrupção e abusos contra os mais pobres. Política é coisa dos homens. Por isso mesmo é tão suja e a maior razão de
seu sofrimento”. E depois proclamou, Imperial:
“-
Essa é minha Dona Neide. Abra caminho, Pedro. Dê espaço a ela.
Deixe-a trabalhar. Ela agora faz o que sempre quis: obra pelo bem
comum, sempre atendendo a todos, cada um de forma diferente. Ela
sempre teve esta sabedoria: tratar pessoas diferentes de forma
diferente. Ela é minha filha querida. Que ninguém se preocupe com
seu espírito, pois ele é Meu e voltou para Mim. Eu responderei por
ele. Eu, o Senhor da Vida e da Morte, decreto agora e sempre a
felicidade eterna da Dona Neide. Que sejam publicadas nas proclamas
celestiais: Aqui está mais uma Filha amada. Junto de Mim para
sempre. Aqueles que hoje choram serão consolados. Ela me pediu que
olhasse por eles.”
“-Os
filhos?”, perguntou Pedro, ansioso. O Senhor disse: “-Sim, eles
mesmos. Agora estão meio perdidos. É natural. Ela era uma pessoa
muito marcante. Mas tu conheces minha Justiça. Eu sou Aquele que
Chamam de O Eterno Compensador. Pois eu trago de volta o equilíbrio
e a razão onde quer que se precise. Eu compenso as perdas, os ganhos
e ponho tudo em equilíbrio. Hoje eles choram. São humanos. Mas ela
vê tudo com outros olhos, agora. Ela está comigo, e Eu a Consolei.
Todas as suas preocupações se foram. Eu cuidarei dos seus filhos. Ela hoje é imaterial, mais
leve que o ar. Que haja paz no mundo. Que haja Perdão e tolerância.
A Dona Neide chegou ao Céu. Ela agora é Eterna Comigo.”
Pedro
tinha os olhos cheios d'água. “-No céu também se chora”,
consolou o Criador, “- nunca de tristeza, mas por Louvor. Por amor
aqueles que lutam pela redenção de suas almas na vida dura na
terra. São lágrimas de amor, que homem algum jamais chorou. Pedro,
mais uma vez, questionou o Criador: “- Senhor, essa frase não é
aquela da musica do Beto Guedes, “Lágrima de Amor?”
Pedro
as vezes era temerário e abusado. O Senhor o repreendeu: “- A
letra é dele, sim. Mas a Inspiração é Minha. De onde achas que
vêm as grandes canções lá na terra? Quem pôs nas mãos, ouvidos
e corações dos músicos o dom de encantar as gentes? Aqueles
deuses impostores dos gregos e romanos? Apolo? O pobre Orfeu, o amado
de Eurídice? Eu o ensinei a tocar a lira, Pedro, para que enganasse
o senhor da morte. E mesmo assim o pobre sofredor não resistiu à
tentação e perdeu a sua amada. Pobre homem. Por eles enviei Meu
Filho”. E prosseguiu:
“-Não
é pranto, aquilo que parece choro lá no céu, meu caro Kefás, mas
oração e trabalho de ajuda a quem sofre, instruiu o Senhor. “-
Aquieta o coração, Pedro”, disse o Rei do Universo. A Dona Neide
é assim: comove o mundo, move montanhas e nunca desiste. Calma ,
meu servo amado. Eu sei o poder que ela tem: Eu mesmo O dei a Ela.
Cuida bem da Dona Neide, Pedro. Ela é uma das minhas eleitas. E veio
para ficar Comigo”.
São
Pedro entendeu tudo e calou-se, comovido. O Senhor Nosso Deus é o
Maior contador de todas as Histórias do Universo, e o Editor-Mor de toda a Criação.
Suas narrativas nos transportam a outros mundos, onde a dor não
existe e os Mistérios da Vida adquirem sentido, ao final de nossas
jornadas. Nossa mãe agora os entende. Ela nos consolará.
***************************************
O
documento sobre São José está comigo, escrito de punho por minha
mãe, em Agosto de 2015. Ela está em paz, e que ninguém acredite
que seu espírito não pode evoluir, por conta do pranto de quem a
amava e ama. Só o Senhor Sabe essas coisas. E agora Ele contou Tudo
a Ela. Mamãe está com Deus, em Paz. Eu não. Mas estarei bem,
quando chegar a hora. Ainda não fez uma semana que ela se foi.
Agradeço
as todos os que se preocuparam comigo. De verdade. De hoje em diante
serão todos meus irmãos, pois testemunharam minha dor , e me
confortaram.
Fique
com Deus, mamãe. Saberemos viver só da tua lembrança. Um dia nos
veremos. E voltaremos a sorrir.